Novo estudo relaciona níveis baixos de colesterol a dieta vegetariana
Uma nova análise que envolveu mais de 49 estudos mostra que as dietas vegetarianas, especialmente as veganas, estão ligadas a níveis mais baixos de colesterol total. Isso inclui níveis mais baixos de colesterol bom (HDL) e colesterol ruim (LDL), quando comparadas às dietas que incluem carne e outros alimentos de origem animal.
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Uma recente análise de estudos controlados mostrou que seguir uma dieta vegetariana pode reduzir os níveis de lipídios no sangue. O objetivo deste estudo foi fazer uma revisão sistemática e uma meta-análise de estudos observacionais e ensaios clínicos para entender melhor a relação entre dietas à base de plantas e os níveis de lipídios no sangue.
Meta-análise é uma técnica estatística que combina os resultados de vários estudos independentes sobre um mesmo tema, permitindo uma análise mais robusta e confiável. Ela ajuda a identificar padrões, esclarecer controvérsias e fornecer uma visão geral sobre a eficácia de intervenções ou associações em pesquisa.
Metodologia do estudo
Os três principais autores da pesquisa – Yoko Yokoyama, Susan Levin, e Neal Barnard, – analisaram 30 estudos observacionais e 19 ensaios clínicos, com objetivo de obter o máximo possível de informações confiáveis de pesquisas variadas e com públicos distintos.
Existem diferentes tipos de estudos que ajudam os pesquisadores a entender como a alimentação afeta a saúde. Dois dos principais tipos são os estudos observacionais e os estudos clínicos.
Os estudos observacionais são aqueles em que os pesquisadores observam e analisam o comportamento das pessoas sem interferir. Por exemplo, eles podem acompanhar um grupo de pessoas que seguem uma dieta específica e outro grupo que não segue essa dieta. Os pesquisadores coletam dados sobre a alimentação, saúde e outros fatores ao longo do tempo. Esse tipo de estudo pode mostrar associações, como se uma dieta vegetariana está ligada a menos problemas de saúde, mas não pode provar que a dieta é a causa direta desses benefícios. Isso acontece porque muitos fatores podem influenciar os resultados, como estilo de vida e genética.
Já os ensaios clínicos são diferentes, pois nesses estudos os pesquisadores fazem intervenções diretas. Por exemplo, eles podem dividir um grupo de pessoas em dois: um grupo segue uma dieta específica, sugerida pelos cientistas e o outro grupo não muda sua alimentação. Ao longo do tempo, os pesquisadores avaliam os efeitos dessa dieta sugerida na saúde dos participantes em comparação com os de dieta livre. Os estudos clínicos são mais rigorosos e podem fornecer evidências mais fortes sobre a eficácia de uma dieta, pois controlam variáveis e tentam eliminar fatores externos que possam afetar os resultados.
Ambos são importantes para entender melhor como a alimentação pode impactar nossa saúde. Justamente por essa natureza diversa, os pesquisadores do estudo aqui relatado decidiram por mesclar os dois tipos de estudo, para refinar sua análise e conclusões.
Colesterol LDL e HDL: conheça o “bom” e o “ruim”
O colesterol é uma substância gordurosa essencial para o funcionamento do corpo, pois desempenha um papel crucial na formação de células, hormônios e vitaminas. No entanto, existem diferentes tipos de colesterol que podem ter efeitos variados na saúde cardiovascular. Os dois principais tipos são o colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade) e o colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade).
O colesterol LDL, muitas vezes chamado de “colesterol ruim”, é responsável por transportar o colesterol do fígado para as células do corpo. Quando há excesso de LDL na corrente sanguínea, ele pode se acumular nas paredes das artérias, formando placas que estreitam os vasos sanguíneos, atrapalhando a circulação.
Esse processo, conhecido como aterosclerose, pode levar a problemas sérios como doenças cardíacas, ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. Portanto, níveis elevados de LDL são considerados um fator de risco significativo para doenças cardiovasculares. É importante monitorar os níveis de LDL e, se necessário, adotar mudanças na dieta e no estilo de vida para reduzi-los.
Por outro lado, o colesterol HDL é frequentemente chamado de “colesterol bom”. Sua principal função é transportar o colesterol das células de volta para o fígado, onde ele pode ser processado e eliminado do corpo. O HDL ajuda a remover o excesso de colesterol da corrente sanguínea, reduzindo assim o risco de doenças cardíacas. Níveis elevados de HDL estão associados a um menor risco de problemas cardiovasculares. Portanto, ter uma quantidade adequada de HDL é benéfico para a saúde.
A relação entre LDL e HDL é fundamental para a avaliação do risco cardiovascular. Um perfil lipídico saudável geralmente apresenta níveis baixos de LDL e altos de HDL. Fatores como dieta, exercício físico, genética e hábitos de vida influenciam esses níveis. Alimentos ricos em gorduras saturadas e trans podem aumentar os níveis de LDL, enquanto alimentos ricos em ácidos graxos ômega-3, fibras e antioxidantes podem ajudar a elevar os níveis de HDL.
Diversos estudos científicos têm explorado a importância do equilíbrio entre LDL e HDL. A redução dos níveis de LDL pode levar a uma diminuição significativa no risco de eventos cardiovasculares, enquanto o aumento dos níveis de HDL está associado a uma proteção adicional contra esses eventos. Além disso, hábitos saudáveis, como a prática regular de exercícios, não fumar e manter uma dieta equilibrada, podem ajudar a otimizar os níveis de colesterol no corpo.
Compreender os diferentes tipos de colesterol é essencial para manter a saúde cardiovascular, um dos objetivos do estudo citado nesta matéria, conforme reforça uma das pesquisadoras envolvidas: “O nosso objetivo com o estudo dos lípidos plasmáticos é entender como uma dieta vegetariana pode ajudar a reduzir o risco de problemas de saúde. Queremos fornecer aos pacientes novas informações sobre os benefícios a longo prazo de uma dieta vegetariana para a saúde do coração, que incluem menos chances de ter um ataque cardíaco, um acidente vascular cerebral e a morte precoce.”, conclui Susan Levin.
Relação entre baixo colesterol e dieta vegetariana
Eles descobriram que uma dieta vegetariana está associada a um colesterol total 29,2 mg/dL mais baixo em estudos observacionais. Em ensaios clínicos, uma dieta à base de plantas reduz o colesterol total em 12,5 mg/dL. Em resumo, concluíram que:
- Em estudos observacionais, uma dieta vegetariana à base de plantas está associada a uma redução de 22,9 mg/dL no colesterol LDL e a uma redução de 3,6 mg/dL no colesterol HDL, em comparação com grupos de controle que seguem uma dieta onívora.
- Em ensaios clínicos, uma dieta vegetariana à base de plantas reduz o colesterol LDL em 12,2 mg/dL e reduz o colesterol HDL em 3,4 mg/dL, em comparação com grupos de controlo que seguem uma dieta onívora, com baixo teor de gordura, com restrição calórica ou uma dieta convencional para a diabetes.
- Uma dieta vegetariana não está associada a alterações estatisticamente significativas nos níveis de triglicéridos em estudos observacionais ou em ensaios clínicos.
Os autores acreditam que a forte conexão entre dietas vegetarianas e colesterol mais baixo pode ser fruto de uma série de fatores associados. É comum que pessoas adeptas de dietas veganas e vegetarianas possuam um peso corporal e percentual de gordura mais baixo, o que auxilia em bons marcadores individuais de saúde.
Além disso, tendem também a consumir menos gorduras saturadas e muitos alimentos como legumes, frutas, feijões, nozes e grãos integrais, naturalmente ricos em fibras, que ajudam a absorver gorduras e no bom funcionamento do sistema digestivo. As fibras também ajudam a reduzir a absorção de colesterol pelo intestino e promovem a eliminação do colesterol já existente no organismo. A fibra solúvel, encontrada em alimentos como aveia, feijão e maçãs, é particularmente eficaz nesse processo.
As dietas baseadas em plantas também são ricas em antioxidantes e fitonutrientes, que contribuem para a saúde cardiovascular. Esses compostos ajudam a combater a inflamação e o estresse oxidativo, fatores que podem prejudicar a saúde das artérias e aumentar o risco de doenças cardíacas. O consumo de alimentos ricos em ácidos graxos e ômega-3, como sementes de linhaça e nozes, também pode favorecer o aumento do HDL, que ajuda a remover o excesso de colesterol do sangue.
Os pesquisadores apresentam a hipótese de que a maior redução do risco para os níveis de colesterol total, HDL e LDL observada nos estudos longitudinais se deve provavelmente à adesão a longo prazo a padrões alimentares veganos e vegetarianos e de seus ganhos constantes e duradouros para a saúde.
“Os benefícios imediatos para a saúde de uma dieta vegetariana ou vegana, como a perda de peso, a redução da pressão arterial e a melhoria do colesterol, estão bem documentados nos estudos, é praticamente um consenso.”, afirma a pesquisadora, Susan Levin.
Dentro do contexto geral, conclui-se que a inclusão de uma variedade de alimentos vegetais na dieta não apenas ajuda a controlar o colesterol ruim, mas também promove um aumento no colesterol bom, contribuindo para uma melhor saúde cardiovascular e reduzindo o risco de doenças cardíacas.
A mudança para uma dieta vegetariana ou vegana pode ser uma estratégia eficaz para quem busca melhorar seu perfil lipídico e, consequentemente, sua saúde geral. Além disso, a prática regular de atividade física é fundamental para a redução do colesterol, pois exercícios ajudam a aumentar os níveis de colesterol HDL (o “bom”) e a diminuir o LDL (o “ruim”).
Para obter os melhores resultados e garantir a segurança durante a prática, é essencial que a atividade física seja acompanhada por um profissional de educação física, que pode elaborar um plano de exercícios adequado às necessidades individuais e promover um estilo de vida saudável de forma eficaz.
➡️Recomenda-se sempre buscar orientação de um nutricionista para elaboração de um plano alimentar equilibrado e personalizado, assegurando a ingestão adequada de proteínas e outros nutrientes essenciais.O acompanhamento profissional é fundamental para otimizar resultados e evitar possíveis deficiências nutricionais.
Veja mais informações sobre o colesterol aqui
Leia aqui no blog: “Vegetarianos têm níveis mais saudaveis de marcadores de doenças”
Veja o estudo completo: Yoko Yokoyama et al, Association between plant-based diets and plasma lipids: a systematic review and meta-analysis, Nutrition Reviews (2017). DOI: 10.1093/nutrit/nux030
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