Dietas vegetarianas se provam eficazes contra a obesidade, reforça novo estudo

pessoa vegetariana sobre uma balança

Estudo revela que dietas vegetarianas ajudam a combater a obesidade de forma mais eficaz. Descubra os benefícios para a saúde.

As dietas pró-vegetarianas (com um maior consumo de alimentos de origem vegetal em comparação com os alimentos de origem animal) podem proporcionar uma proteção substancial contra a obesidade, de acordo com a investigação feita recentemente na Universidade de Navarra, Espanha.  

A obesidade é hoje um problema mundial

A obesidade é uma condição médica caracterizada pelo excesso de gordura corporal, o que pode ter impactos negativos na saúde. Geralmente, é medida pelo índice de massa corporal (IMC), que é o peso de uma pessoa dividido pela sua altura ao quadrado. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa é considerada obesa quando o seu IMC é igual ou superior a 30 kg/m². Esse excesso de gordura pode acarretar uma série de complicações, como doenças cardíacas, diabetes tipo 2, hipertensão, entre outras. 

Dados da OMS indicam que a prevalência global de obesidade triplicou desde 1975. Em 2016, mais de 1,9 bilhão de adultos estavam com sobrepeso, dos quais mais de 650 milhões eram obesos. Isso representa cerca de 13% da população adulta global. Além disso, a obesidade infantil também está crescendo em ritmo alarmante. Estimativas da OMS mostram que, em 2020, cerca de 39 milhões de crianças menores de 5 anos estavam com sobrepeso ou obesidade.

As causas da obesidade são variadas, incluindo fatores genéticos, metabólicos, comportamentais e ambientais.

A genética influencia a maneira como o corpo armazena e processa gordura, o que pode aumentar o risco de obesidade em algumas pessoas. Vários genes estão associados ao apetite, à saciedade e ao metabolismo. Um exemplo é o gene FTO, que foi identificado como um dos principais relacionados ao acúmulo de gordura corporal.

Além dos genes, fatores metabólicos também são cruciais. O metabolismo basal — a quantidade de energia que o corpo gasta em repouso — varia de pessoa para pessoa. Indivíduos com um metabolismo mais lento tendem a queimar menos calorias, o que pode facilitar o ganho de peso. Alterações hormonais também afetam o metabolismo.

Outras condições metabólicas, como o hipotireoidismo, desaceleram o metabolismo e podem levar ao ganho de peso. Assim, fatores genéticos e metabólicos interagem com hábitos alimentares e níveis de atividade física, aumentando o risco de obesidade em alguns indivíduos.

No âmbito comportamental, o sedentarismo e o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e ricos em calorias são determinantes críticos. O aumento da disponibilidade de fast food, associado à falta de atividades físicas regulares, leva a um desequilíbrio energético — onde a ingestão calórica supera o gasto energético, resultando em ganho de peso.

Fatores ambientais também desempenham um papel significativo. A urbanização e a vida moderna criaram ambientes que incentivam comportamentos sedentários, como o uso excessivo de automóveis e o aumento do tempo gasto em atividades passivas, como assistir televisão. Além disso, a publicidade de alimentos ricos em açúcar e gordura atinge especialmente crianças e adolescentes, influenciando escolhas alimentares prejudiciais desde cedo.

Em suma, o aumento do consumo de alimentos ricos em calorias, açúcares e gorduras, combinado com a falta de atividade física, é um dos principais impulsionadores da epidemia de obesidade.

A obesidade é considerada um fator de risco importante para várias doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como diabetes, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. Além disso, ela gera impactos significativos nos sistemas de saúde pública, elevando os custos relacionados ao tratamento de doenças associadas e reduzindo a expectativa de vida da população.

No Brasil, a obesidade também é um enorme problema de saúde pública. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2019, cerca de 60,3% da população adulta brasileira está com sobrepeso, sendo que 25,9% dos brasileiros adultos são obesos. A taxa de obesidade no país tem crescido de forma constante nas últimas décadas. Entre 2006 e 2019, a proporção de obesos no Brasil aumentou em mais de 70%. Além disso, a obesidade infantil também é uma preocupação crescente: segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos são obesas.

Mudanças nos hábitos alimentares, como o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e a diminuição do consumo de frutas, legumes e verduras, estão entre as principais causas. Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) destacou que cerca de 58% das calorias consumidas pelos brasileiros provêm de alimentos ultraprocessados, como biscoitos, refrigerantes e salgadinhos. Esses alimentos são ricos em açúcares, gorduras e sal, o que contribui significativamente para o aumento da obesidade.

Além dos hábitos alimentares, a falta de atividade física também é um fator preocupante no Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019 revelou que quase metade da população adulta (47%) não pratica atividades físicas suficientes para manter uma boa saúde. Esse estilo de vida sedentário, associado ao consumo de alimentos de baixa qualidade nutricional, tem impulsionado o aumento da obesidade no país.

Estudo espanhol traz pontos positivos de uma dieta vegetariana

Pesquisadores espanhóis trouxeram recentemente contribuições importantes. Este estudo observacional revelou que as pessoas que seguiam uma dieta pró-vegetariana – rica em alimentos provenientes de fontes vegetais, como legumes, fruta e cereais – reduziam o risco de desenvolver obesidade para quase metade, em comparação com as que eram menos vegetarianas – com um padrão alimentar rico em alimentos de origem animal, como carne e gorduras animais.

O estudo foi realizado por Julen Sanz, da Universidade de Navarra, sob a supervisão do Dr. Alfredo Gea e da Professora Maira Bes-Rastrollo da Universidade de Navarra e do CIBERobn (Instituto de Saúde Carlos III), em Espanha. 

Examinaram a associação entre vários graus de dieta pró-vegetariana (à base de plantas) e a incidência de obesidade (índice de massa corporal; IMC >30) em mais de 16.000 adultos saudáveis e não obesos da Coorte SUN (Seguimiento Universidad de Navarra) – um estudo que acompanha a saúde de estudantes espanhóis desde 1999.

Os participantes preencheram questionários alimentares detalhados no início do estudo e os investigadores utilizaram um índice de dieta pró-vegetariana (PVI) para pontuar cada participante em relação aos tipos de alimentos que comiam. Foram atribuídos pontos pela ingestão de sete grupos de alimentos vegetais – legumes, frutas, grãos, nozes, azeite, leguminosas (como ervilhas, feijões e lentilhas) e batatas. 

Foram subtraídos pontos a cinco grupos de animais – gorduras animais, lacticínios, ovos, peixe e outros mariscos e carne. Com base nas suas pontuações, os participantes foram classificados em cinco grupos, desde os 20% com a dieta menos pró-vegetariana até aos 20% com a mais vegetais ou completamente vegetarianos ou veganos, e seguidos durante uma média de 10 anos.

Durante o acompanhamento, 584 participantes tornaram-se obesos. Os investigadores verificaram que os participantes que seguiam rigorosamente uma dieta pró-vegetariana tinham menos probabilidades de se tornarem obesos, pois a maioria dos participantes desse grupo não desenvolveu problemas de obesidade. 

A modelagem mostrou que, em comparação com os participantes menos vegetarianos, os vegetarianos tinham um risco 43% menor de desenvolver obesidade. Para os que possuíam uma dieta com mais carnes a redução do risco de obesidade foi de 12%, em comparação com os vegetarianos. 

Os resultados mantiveram-se independentemente de outros fatores influentes, incluindo o sexo, a idade, o consumo de álcool, o IMC, a história familiar de obesidade, as refeições ligeiras entre as refeições, o tabagismo, a duração do sono e a atividade física.

Os autores reconhecem que os seus resultados mostram diferenças observacionais e não provas de causa e efeito. Eles concluem: “O nosso estudo sugere que as dietas à base de plantas estão associadas a um risco substancialmente menor de desenvolver obesidade. Isto apoia as recomendações atuais para mudar para dietas ricas em alimentos vegetais, com menor ingestão de alimentos de origem animal”

Como dietas vegetarianas e veganas ajudam contra a obesidade

Dietas baseadas em vegetais, como as dietas vegetarianas e veganas, tendem a ser mais ricas em fibras e têm uma densidade calórica menor do que dietas que incluem produtos de origem animal. Alimentos como frutas, legumes, verduras, grãos integrais e leguminosas possuem um teor de água e fibra mais alto, o que aumenta a sensação de saciedade sem adicionar muitas calorias. Isso pode ajudar a controlar o apetite e evitar a ingestão excessiva de alimentos ao longo do dia.

Além disso, as dietas vegetarianas e veganas excluem ou limitam alimentos processados e ricos em gordura saturada, como carnes gordurosas e laticínios, que podem contribuir para o ganho de peso. Ao substituir esses alimentos por fontes mais magras e saudáveis de proteína vegetal, como leguminosas, tofu e nozes, os indivíduos podem obter a quantidade de proteínas necessárias sem o excesso de calorias e gordura. Isso favorece uma redução no peso corporal ao longo do tempo, desde que a dieta seja balanceada e rica em nutrientes.

Outro fator importante é que dietas ricas em fibras, como as vegetarianas e veganas, promovem uma digestão mais lenta e equilibrada, mantendo a glicemia estável ao longo do dia. Isso reduz os picos de insulina, que são frequentemente associados ao acúmulo de gordura corporal, especialmente na região abdominal. Com a ingestão regular de fibras, as pessoas conseguem gerenciar melhor seu peso e evitar o desenvolvimento de condições associadas ao excesso de peso.

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